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Pais e Filhos (Soshite Chichi ni Naru), de Hirokazu Kore-Eda (Japão)

Por Carlos Augusto Brandão

Impasse familiar entre o drama e leveza

 

O diretor japonês Hirokazu Kore-Eda emocionou o público quando lançou seu filme Ninguém Pode Saber, sobre quatro crianças que, com medo de serem separadas, permanecem na casa e escondem de todos que a mãe as abandonou.

 

Ele agora volta a falar de crianças, desta vez com Pais e Filhos, que ganhou o Grande Prêmio do Júri em Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro.

 

O filme relata o drama de duas famílias ao descobrirem que seus filhos, já com 6 anos, foram trocados na maternidade quando nasceram.

 

A história é centrada no casal Ryota (Masaharu Flukuyama) e Midori (Machiko Ono), que educa o filho Keita para que ele seja alguém de sucesso.  A outra família, de classe social inferior, não tem planos tão ambiciosos.

 

A rotina familiar de Ryota e Midori, aparentemente perfeita, é rompida quando o hospital onde Keita nasceu informa que cometeu um erro, pois o menino não é filho biológico de ambos.

 

O que fazer? Trocar o filho adotivo pelo biológico ou manter a situação como está? Quais  laços são mais importantes, os afetivos ou os de sangue?  Essa é a grande dúvida dos pais nesse drama poderoso, mas narrado com leveza e que, em alguns momentos, tem até um pouco de humor.

 

Além de bastante competente, o diretor tem muita sensibilidade para expressar o imaginário infantil e as incertezas e os temores dos adultos, demonstrando todo o seu talento na abordagem das complexas relações humanas.

 

Os sentimentos fluem; em alguns momentos, os personagens parecem que vão chegar ao limite de suas possibilidades emocionais, mas nada nos faz esquecer que essas famílias amam os seus filhos e sofrem com o que aconteceu, levando-nos a refletir como reagiríamos se estivéssemos na mesma situação.

 

Kore-Eda – que aborda, de forma extremamente realista, o dilema das duas famílias sem julgar ou tomar partido pelos personagens – revela que sua experiência como documentarista o ajudou muito na composição do roteiro e no trabalho com os atores e que, em sua obra, tem mesmo a intenção de mostrar a mudança de valores da família tradicional japonesa.

 

“As pessoas ainda imaginam a família no Japão com seus papéis bem definidos, como foi mostrado, por exemplo, em tantos filmes de (Yasujiro) Ozu, mas hoje a situação é bem outra”, explica o diretor, que, através da história do casal, quis provocar também um debate social sobre classes separadas pela situação econômica atual.

 

“O filme aborda a questão da luta de classes, mas sem fazer dela o foco central, pois quis fazer da ambiguidade a ferramenta para talhar o filme”, ressalta o diretor, que, embora narre uma história triste, quis deixar também uma mensagem positiva.

 

“É uma trama de perdas, sim, mas, ao lado das situações de angústia e tristeza, há igualmente momentos de alegria e esperança”, pondera o autor de belos filmes como A Luz da Ilusão (Maborosi,1995) e Depois da Vida (1998).   

Soshite Chichi ni Naru – Japão, 2013 - Direção: Hirokazu Koreeda – Roteiro: Hirokazu Koreeda – Produção: Kaoru Matsuzaki, Hijiri Taguchi- Fotografia: Mikiya Takimoto – Montagem: Hirokazu Koreeda – Elenco: Masaharu Fukuyama, Machiko Ono, Lily Franky – Duração: 120 minutos.

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