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Pearl

Por Luciana Costa

Ode ao cinema e carnificina

 

 

O filósofo Friedrich Nietzsche dizia que “a arte existe para que a realidade não nos destrua”. E é envolta nessa premissa que vive a personagem Pearl. O problema é que quando arte e sonhos acabam, só restando a realidade, uma pessoa com rompantes violentos pode enlouquecer. Ainda que tenha sido lançado depois de “X: A marca da maldade” (2022), “Pearl” é um prequel, narrando o que levou a personagem Pearl a se tornar uma brutal assassina. Ambos os filmes foram dirigidos por Ti West, sendo que “X” foi escrito por West e “Pearl” por ele e Mia Goth, que interpreta a protagonista das duas produções.

 

West se inspirou em dois clássicos do cinema – “O mágico de Oz” (1939) e “O que terá acontecido a Baby Jane?” (1962) – para dar à personagem que nomeia a trama o ar pueril de inocência necessário em alguns momentos e a aparência de descontrole e histeria em outros. De beleza exótica, Goth, neta da atriz brasileira Maria Guedes, acerta o tom. Às vezes é possível sentir pena de Pearl ou até identificação com aquela jovem sonhadora que vive uma realidade difícil e se refugia nos filmes e no sonho de ser dançarina.

 

A história, que se passa em 1918, é um suspense que presta homenagem aos primórdios do cinema. Ti West utiliza antigas técnicas de filmagem, como o fade out, para caracterizar o momento em que a protagonista se sente realizada, algo comum nas cenas de romance ou de desfecho com final feliz nos filmes mudos. As homenagens não param por aí – até mesmo a jacaré de “Pearl” se chama Theda, para reverenciar a atriz de filmes mudos Theda Bara.

 

No primeiro ato, a fotografia e as músicas criam um clima onírico, de conto de fadas. Já o segundo ato é tomado pelo suspense, provocando desconforto no espectador – temos a sensação o tempo todo de que algo terrível está para acontecer. A carnificina gráfica só vem, porém, no terceiro ato. Até lá, toda a ambientação e os personagens vão sendo gradativamente muito bem construídos.

 

Foi anunciado um terceiro filme da franquia. Com o talento que mostrou até aqui e que ganhou força em séries de terror, Ti West parece ser o nome que faltava ao gênero.

Pearl (Pearl), de Ti West (EUA/Canadá/Nova Zelândia, 2022). Com Mia Goth, David Corenswet, Tandi Wright.

Drama/Terror. Sinopse: Veja como Pearl se tornou a assassina feroz vista em “X”. 103 minutos. 18 anos.

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