Homenagem Ponto Cine e cineclube Subúrbio em Transe
Entrevista com Adailton Medeiros e Luiz Claudio Motta Lima
Por Zeca Seabra
Todo ano, a ACCRJ homenageia uma personalidade que tenha se destacado no cenário cinematográfico brasileiro. Este ano, são duas. Luiz Claudio Motta Lima e Adailton Medeiros são os responsáveis pela criação e pela manutenção de dois polos culturais cariocas (o cineclube Subúrbio em Transe e o Ponto Cine, respectivamente). O esforço e a tenacidade destes dois empreendedores foi o que fez com que os integrantes da ACCRJ os elegessem como destaques no ano de 2013. A proposta dos projetos é resgatar um cinema de qualidade para o subúrbio carioca, com a projeção de filmes nacionais independentes, estrangeiros, clássicos, curtas-metragens e videoarte. Aos poucos, estes movimentos vão gerando, com exibições e debates, em um público sem fácil acesso aos grandes centros culturais, novas imagens e novos olhares.
Proprietário do simpático e aconchegante Ponto Cine, no Guadalupe Shopping, Adailton Medeiros enfrentou várias dificuldades para realizar sua meta: ser dono de uma sala de cinema.
”Passei 11 anos na Região Amazônica e quando voltei percebi que os cinemas do bairro onde fui criado (Anchieta) tinham acabado. Tive então a ideia de ser dono de um cinema. Nessa época, trabalhava na Tasa (Telecomunicações Aeronáuticas S.A., que foi incorporada à Infraero) no setor de meteorologia e fui botando na cabeça que tinha que comprar um projetor. Consegui fazer um acordo com meu chefe para ser demitido e com o dinheiro comprei um dos primeiros projetores de lente de cristal líquido do Brasil e o instalei em uma pequena sala comercial que minha mãe me emprestou em Anchieta. Se chamava A Casa de Arte de Anchieta e só cabiam 37 pessoas.”
Adailton criou um projeto chamado Conversa Fiada, em que misturava poesia, música e cinema. E, com apoio de amigos e desconhecidos, conseguiu ganhar novos espaços, indo para as calçadas, praças e lonas culturais, até chegar ao atual endereço em Guadalupe.
O Ponto Cine é uma das melhores salas digitais de cinema do Rio de Janeiro e funciona na Estrada do Camboatá, 2.300 (Guadalupe Shopping), de terça a domingo, com uma programação que estimula o cinema nacional. O bairro passou por uma revitalização com a instalação de novos cinemas (agora em um novo shopping, Jardim Guadalupe, na Avenida Brasil), tornando-se uma opção de cultura na Zona Norte. Adailton conseguiu fazer com que o nome do bairro frequentasse os cadernos de cultura.
”Em 2004, fui convidado para fazer uma exibição dentro do shopping, que na época tinha apenas duas lojas. O filme era Tainá (2001), e solicitei mais cadeiras à gerente do espaço. Ela disse que não havia necessidade (havia 400 cadeiras), pois o público nos eventos realizados anteriormente nunca passava de 40 ou 50 espectadores. No dia da exibição, apareceu tanta gente que tiveram que fechar a porta de entrada. O sucesso foi tanto que repetimos o evento com outro filme (Deus é Brasileiro), com mais de 800 pessoas. Diante dos excelentes resultados, o dono do shopping me perguntou se eu não queria abrir um cinema, e foi assim que tudo começou.”
A trajetória de Luiz Claudio não foi muito diferente. Professor do núcleo de arte da Escola Municipal Grécia, na Vila da Penha, ele se empenhou por um espaço onde poderia articular a produção de seus alunos.
”Desde 2003, desenvolvíamos um trabalho de vídeos, com curtas-metragens, que eram exibidos em alguns festivais, principalmente no Vídeo Fórum do Festival do Rio. Em 2005, houve um Vídeo Fórum especial na Lona de Vista Alegre, onde conseguimos um espaço para exibirmos a produção dos alunos, além de convidarmos cineastas para debates”, conta Luiz Claudio.
Fazendo parcerias com associações como ABDeC (Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas do Rio de Janeiro), Ascine (Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro) e centros culturais como o Casarti (Casa do Artista Independente), Luiz Claudio conseguiu criar o tão sonhado cineclube para o subúrbio.
Em 7/7/2007, nascia o cineclube Subúrbio em Transe, no mesmo ano em que foi produzido o primeiro longa-metragem do núcleo de arte, Alma Suburbana, distribuído pela rede municipal de ensino e disponível no YouTube. O Subúrbio em Transe anuncia para fevereiro a inauguração de um novo espaço no Casarti. E atualmente funciona na Arena Jovelina Pérola Negra, na Pavuna, e na Lona Cultural João Bosco, em Vista Alegre, além de promover sessões itinerantes que percorrem outros espaços e fazer parcerias com diferentes cineclubes.
A homenagem da ACCRJ ressalta o talento desses dois empreendedores cuja paixão pelo cinema foi a mola mestra para a realização de um sonho que nem sempre pareceu possível.