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Retrospectiva 2023

Por Lucas Salgado

Um ano colorido e explosivo

 

 

O ano de 2023 foi marcado por dois grandes acontecimentos que abalaram as estruturas de Hollywood. Um deles foi o fenômeno “Barbenheimer”, inusitado encontro entre “Barbie”, de Greta Gerwig, e “Oppenheimer”, de Christopher Nolan, dois filmes completamente opostos que chegaram de mãos dadas às telas e se transformaram em grandes sucessos de bilheteria, com faturamento combinado de US$ 2,3 bilhões. O outro fenômeno foram as greves de atores e roteiristas dos Estados Unidos, que paralisaram a indústria cinematográfica por quase 200 dias, levantando discussões sobre regulamentação do streaming e, especialmente, sobre o uso de Inteligência Artificial nesse meio.

 

Antes disso, em seus primeiros meses, o ano viu o inesperado “Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”, de Daniel Kwan e Daniel Scheinert, abocanhar os principais prêmios da temporada. O longa, estrelado por Michelle Yeoh, Jamie Lee Curtis e Ke Huy Quan, recebeu nada menos que sete Oscar, incluindo as estatuetas de Melhor Filme e Melhor Direção, e desbancou obras de cineastas cultuados como Steven Spielberg (“Os Fabelmans”) e Todd Field (“Tár”).

 

Já sem a sombra da covid-19, a expectativa em Hollywood era de que 2023 fosse o ano da retomada definitiva do público e da experiência cinematográfica, sobretudo após o ótimo desempenho de “Top Gun: Maverick” e “Avatar: O caminho da água” no ano anterior. No entanto, o que se viu não foi um mar de rosas. No primeiro semestre, a única grande bilheteria foi “Super Mario Bros.: O filme”, que arrecadou US$ 1,3 bilhão nos cinemas mundo afora. Mas tiveram resultado aquém do esperado produções aguardadas como “A Pequena Sereia”, “Velozes & Furiosos 10”, “Missão: Impossível – Acerto de contas Parte 1”, “Indiana Jones e o chamado do destino” e “Transformers: O despertar das feras”.

 

O mesmo pode ser dito dos filmes protagonizados por super-heróis, que, na última década, vinham se destacando como os principais fenômenos de bilheterias. Mas não foi o que deu as caras no ano passado. “Guardiões da Galáxia, Vol. 3”, “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”, “As Marvels” e “The Flash” tiveram desempenho decepcionante. E é aí que entra “Barbenheimer”.

 

A dupla estreia no fim de julho, que nasceu como “meme”, acabou criando uma onda de publicidade e público raramente vista em Hollywood. Mesmo sem seus elencos poderem caminhar por tapetes vermelhos em razão do movimento de paralisação dos atores, os dois filmes foram fenômenos comerciais e apresentaram um cenário difícil de ser reproduzido – mesmo que se tente nos próximos anos.

 

E foi graças ao colorido filme da boneca vivida por Margot Robbie — com parceria mais que fundamental de Ryan Gosling como Ken — e ao intenso drama sobre o pai da bomba atômica, interpretado pelo estranhamente carismático Cillian Murphy, que o ano pôde ser observado sob uma ótica otimista. O sucesso foi tamanho que até Martin Scorsese, crítico recorrente de películas de grandes estúdios, traçou elogios públicos aos dois filmes, citando-os como esperanças de originalidade em obras comerciais de Hollywood.  

 

Após brilharem nas salas de cinema, “Barbie” e “Oppenheimer” seguiram juntos para dominar também as premiações cinematográficas do ano, com destaque especial para o drama de Nolan.

 

Se o cenário internacional se dividiu entre greve e “Barbenheimer”, a cena nacional viu um intenso debate dominar as atenções: a necessidade do retorno da cota de tela. Em um ano de calendário completo, com os festivais acontecendo presencialmente e sem incidentes relacionados à covid 19, o cinema brasileiro demonstrou certa fragilidade. Tal panorama só mudou na última semana do ano, com o lançamento de “Mamonas Assassinas: O filme” e, principalmente, de “Minha irmã e eu”, primeira produção a superar a barreira de um milhão de espectadores desde a pandemia, o que, no entanto, só aconteceu nos primeiros dias de 2024.

 

Em 2023, o cenário ainda foi de dificuldade. O cinema nacional apostou claramente em cinebiografias para cativar o público, mas a procura por ingressos foi insuficiente mesmo diante de obras como “Nosso sonho”, sobre Claudinho e Buchecha, “Meu nome é Gal”, sobre Gal Costa, e “Mussum, o filmis”, sobre o eterno personagem dos Trapalhões. Entre eles, “Mussum” se destacou ao conquistar o Festival de Gramado, mas foi visto por menos de 300 mil pessoas. Já “Nosso sonho” alcançou a marca de longa nacional mais procurado do ano, com 521 mil espectadores, número bem aquém, porém, do habitual para filmes brasileiros.

 

No apagar das luzes, em dezembro, foram aprovadas no Congresso Nacional as leis de cota de tela para cinema e TV paga. Junto com o milhão de espectadores que viram o filme de Tatá Werneck e Ingrid Guimarães, “Minha irmã e eu”, a notícia deu um gás de esperança para o cinema nacional e a expectativa é de que as coisas melhorem já em 2024. É esperar para ver… e torcer.

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