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A força do cinema nacional

Por Lucas Salgado

A ascensão do streaming, a pandemia, as greves em Hollywood, os debates sobre incentivos públicos… Muita coisa colocou o cinema em xeque nos últimos anos, especialmente no Brasil. Após um cenário muito positivo em 2019, com oito filmes superando a barreira de um milhão de espectadores, como “Minha mãe é uma peça 3” e “De pernas pro ar 3”, e produções se destacando em festivais internacionais, como “Bacurau” e “A vida invisível”, o audiovisual nacional passou por anos de crise. Foram necessários quatro anos para que um filme voltasse a vender mais de um milhão de ingressos. Isso ocorreu em 2024, e logo com cinco produções: “Minha irmã e eu”, “Os farofeiros 2”, “Nosso lar 2”, “Ainda estou aqui” e “O auto da Compadecida 2”. No cenário dos festivais, o Brasil também retornou às mostras competitivas de Cannes e Veneza, com “Motel Destino” e “Ainda estou aqui”, respectivamente.

 

A força do cinema nacional ajudou a impulsionar as bilheterias do próprio país. Enquanto nos Estados Unidos e em boa parte da Europa (com exceção da França, com sucessos da casa como “O conde de Montecristo”), onde a bilheteria anual sofreu um retrocesso em comparação ao ano anterior, o Brasil viu um crescimento de quase 10% em seu número de espectadores. Foram 125 milhões de ingressos vendidos no ano passado, contra 114 milhões em 2023.

 

Além dos destaques nacionais, o ano foi impulsionado por continuações de sucesso, especialmente no campo da animação, como “Divertida mente 2”, “Moana 2” e “Meu malvado favorito 4”. O universo dos super-heróis teve suas derrapadas, mas também viu o hit “Deadpool & Wolverine”. O filme, inclusive, contou com pré-estreia no Rio de Janeiro com a presença dos astros Hugh Jackman e Ryan Reynolds, mostrando que o país também voltou a ser atrativo para os grandes estúdios e suas premières internacionais.

 

É claro que, apesar de alguns números positivos, a indústria do audiovisual ainda luta com dificuldades históricas, sejam dívidas provenientes da pandemia, seja na mudança no comportamento do público. Em razão disso, muitas exibidoras estão buscando se diversificar na oferta de conteúdo. Um bom exemplo é o Grupo Estação, no Rio de Janeiro, que passou a realizar exibições especiais e mostras retrospectivas com muito mais frequência que nos anos anteriores. E o resultado foi muito positivo, revelando um público sedento por filmes que não conseguem achar nas plataformas de streaming. A mostra “Clint Eastwood: o Ator, o Diretor, o Gênio”, por exemplo, reuniu mais de 70 produções do lendário cineasta. Dividida em quatro partes, a seleção apresentou filmes raros, alguns em película. 

 

Também nos cinemas do Estação, foram realizadas retrospectivas de nomes variados, de George Lucas a Cavi Borges, além de mostras temáticas de cinema de terror e filmes de Natal. A Cinemateca do MAM e o CCBB também foram palco de mostras que alimentaram a cinefilia carioca em 2025. O Centro Cultural Banco do Brasil, inclusive, sediou uma mostra de filmes do MAM no período em que o museu estava fechado em razão das preparações para o G20. Também no CCBB se destacaram retrospectivas de Léa Garcia, Jean-Claude Bernardet e Val Lewton.

 

O sucesso dessas sessões vem apontando para a força de uma cinefilia jovem justamente em um período em que todos pensavam que os mais novos se contentariam em assistir seus programas na tela de um celular.

 

O Brasil fechou 2024 com 3.509 salas de cinema, sendo um dos poucos países do mundo que registraram o aumento de salas de exibição. O recorde histórico só foi possível por um motivo: o país ainda é deficitário na cobertura do circuito exibidor, que abrange apenas 7% das cidades brasileiras. No Rio de Janeiro, o último ano marcou o retorno de salas que passaram por dificuldades, como o Cine Santa e o Ponto Cine. A cidade viu ainda a abertura do CineCarioca José Wilker, sala em Laranjeiras eleita iniciativa do ano pela Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro.

 

Agora, os olhos se voltam para 2025. Mas não sem antes celebrarmos os principais destaques do ano que passou na Mostra dos Melhores Filmes do Ano da ACCRJ. 

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