Sangue Negro (There Will Be Blood), de Paul Thomas Anderson (2007)
Por Mario Abbade
Cineasta Paul Thomas Anderson realiza em Sangue Negro uma impressionante combinação de enquadramentos suntuosos, planos memoráveis e um profundo desenvolvimento de roteiro e personagem. A história pode ser encarada como uma sombria fábula americana sobre a relação do petróleo com a sociedade. Ao mesmo tempo, flerta com algumas características do western, como o desbravamento de territórios virgens em busca de riquezas. É um retrato denso de um homem implacavelmente ambicioso, conquistando tudo para terminar com nada, tendo a indústria do petróleo como cenário. O título original ("There Will Be Blood") sugere uma parábola bíblica do Velho Testamento, em que o egoísmo e a ambição sem limites será causa de destruição, mas também permite traçar um paralelo com a política externa atual dos Estados Unidos, no embate entre o capitalismo sedento por petróleo e os radicais religiosos no Oriente Médio.
O personagem principal, interpretado por Daniel Day-Lewis, é uma argamassa de paradoxos. Características como grosseria, carisma, teimosia, paciência, violência e suavidade, entre outras, surgem muitas vezes em uma mesma cena. Esse jogo de contradições o torna um personagem praticamente real, em cada gesto e nuance. Esse desempenho impecável ganha a companhia de um impressionante virtuosismo técnico de Anderson. O cineasta trabalha diversas seqüências de maneira épica. No inicio, o impacto reside em uma série de tomadas cuidadosamente programadas para criar uma atmosfera decrépita. Anderson optou em não usar diálogos ou trilha. O silencio é a ferramenta empregada. Todo esse maneirismo visual é apoiado pela fotografia de Robert Elswit, que contrasta vastas paisagens com close-ups, e a trilha sonora composta por Jonny Greenwood, guitarrista da banda Radiohead, que uniu instrumentos de corda e percussão.