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Separações, de Domingos Oliveira (Brasil)

Por Susana Schild 

Cabral, em seu quinto casamento que já dura longos 12 anos, continua apaixonado, não só por Glorinha, mas também por uma tal da liberdade. E não quer perder nenhuma das duas. Glorinha adora Cabral, mas descobre que Diogo também tem seus encantos. Ela faz teatro, mas o seu maior sonho é ter um filho. Glorinha foi namorada de Ricardo que é diretor de teatro acha otimo ter duas namoradas - por uns tempos. Julia, filha de Cabral, é casada, mas continua na ativa, ou seja, namorando. Esses e alguns outros personagens vivem no Rio de Janeiro, mais exatamente na Zona Sul, adoram bares e restaurantes do final do Leblon e além de hesitações amorosas também se debatem com questões artísticas. Separações (2003), último filme de Domingos Oliveira, bem-vinda extensão temática de sua obra-prima "Todas as mulheres do Mundo" (1966), retomada com "Amores" (1988) continua a falar do tema mais caro ao diretor: a sua própria experiência. 

Contrário aos cânones de Syd Field e afins, Domingos Oliveira não está nem aí para dogmas e cartilhas cinematográficas, daquelas que rejeitam "textos teatrais" - a origem de seus dois últimos filmes, e pregam viradas e viravoltas de ação a cada 15 minutos para prender a atenção do espectador. Ainda bem. Se ou não ser fiel  ao parceiro é uma das grandes questões de suas obras, na hora da criação, Domingos parece não ter dúvidas: é totalmente fiel a si mesmo e, em conseqüência, a um jeito carioca de ser, ver, pensar e representar o mundo dos afetos. A aposta poderia gerar constrangedoras ego trips. Nada seria mais injusto com Domingos, que não faz apenas filmes pessoais, leves, soltos e descontraídos com elenco afiadíssimo: faz também estados de espírito.

E esta mágica o diretor atinge com poucos recursos - filmou com câmera digital, o que favorece um lado ágil e "doméstico" do projeto. Fala-se de Domingos como o "Woody Allen" carioca, pelo amor que tem à cidade, pela terna obsessão com se debruça sobre o mais banal - e por isso mesmo - mais difícil dos temas: o cotidiano dos relacionamentos Com o humor e a verve de Allen, mas também com o romantismo de Truffaut, Domingos se impõe como fino radar de uma geração que  não se limita à idade mas à valorização dos afetos como questão essencial da vida.

Talvez um dos segredos desta empatia esteja no fato de que o diretor e autor  não faz cinema (ou teatro) e  nem está na tela (ou no palco)  para falar de suas certezas, mas para compartilhar dúvidas, perplexidades, indecisões. Anti-herói assumido, que gagueja, hesita, paga mico, seu alter-ego Cabral não tem nada a provar, além de especular sobre algumas teses existenciais, como a de que os casais em crise,  assim como os doentes terminais, passam por quatro fases: negação, negociação, revolta, aceitação.

Na contracorrente dos relacionamentos descartáveis, os personagens de Domingos ainda sofrem por amor. Pode ser coisa antiga - tão antiga como o fato de Cabral e Glorinha não terem celulares e sim copos de uísque na mão. E ainda acreditam, pasmem, em discutir a relação. Domingos não trabalha pela ótica simplista de Hollywood. Seus personagens não são forjados por um maniqueísmo primário. Embora vivam na dúvida, descobrem que às vezes vale a pena trocar um grande amor por uma bela amizade, e que no terreno das paixões não há escolhas fáceis - mas algumas valem a pena e podem ser muito divertidas - por algum tempo, até a próxima crise ou questionamento. É só aguardar o próximo filme de Domingos Oliveira.  

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