Viva a Vida!

Desde o tempo em que se desenhavam coitos nas bordas douradas das bíblias para serem apreciados em plena missa, o homem e a mulher ocidentais (os orientais também devem ter suas soluções) encontram caminhos para dar vazão aos desejos, interesses e temas considerados proibidos, quando não francamente pecaminosos. As interdições obviamente nunca impediram as manifestações cifradas e a comunicação oblíqua com os espectadores mais perspicazes ou que dominassem certos códigos secretos.
No século XX, se a literatura já tinha conquistado - não sem polêmicas, escândalos, processos e perseguições - uma grande liberdade criativa, formal e temática quanto ao tratamento do gênero e do sexo (vide o joyceano Ulisses), no cinema de mercado as dificuldades eram bem maiores por conta da estratégia comercial do “filme de família”, que garantia enormes rendas na bilheteria. A vigilância de produtores e censores amesquinhava a iniciativa, sobretudo de diretores e atores, e propostas mais ousadas ou trilhavam o campo aberto da pornografia “ilegal” ou ficavam à margem por conta da radicalidade alcançada, como é o caso do clássico do homoerotismo silencioso, "Salomé" (1922), dirigido por Alla Nazimova, mas assinado pelo marido Charles Bryant.
A mostra “Alusões Homoeróticas do Cinema Clássico” em verdade trata das alegorias, sugestões, dos códigos engendrados por diferentes realizadores e cinematografias para afirmar a presença de outras opções de vida e relacionamento amoroso em meio a sociedades que se queriam modernas, mas permaneciam praticando os velhos obscurantismos, nada muito diferente dos dias que correm, em que ser gay, lésbica, trans e todas as outras opções LGBTQI+ dá cadeia ou até pena de morte em mais de 50 países ao redor do planeta. Como celebração da coragem cinematográfica e das pessoas que ousam transgredir os limites de uma identidade que não é natural mas construída social e culturalmente, o pequeno ciclo celebra a diversidade e a própria vida no que ela tem de invenção de si mesmo e prazer pelo outro, qualquer que ele seja.
Mostra Alusões Homoeróticas do Cinema Clássico
De 8 a 14 de abril na Cinemateca do MAM
Curadoria Cinemateca do MAM e ACCRJ
8/4 – segunda-feira – 18h
Abertura com Hernani Heffner e Frank Carbone
Senhoritas em uniforme (Mädchen in uniform), de Leontine Sagan, Carl Froelich (Alemanha, 1931). Com Dorothea Wieck, Hertha Thiele, Emilia Unda.
Drama/Romance. Sinopse: Manuela é uma jovem ingênua que está começando a conhecer o mundo quando é enviada para um internato que aceita apenas mulheres. Uma vez lá, entra em um novo ambiente e logo conhece o amor: o problema é que ela se apaixona por uma de suas professoras, um afeto que pode colocar Manuela em um caminho trágico. 88 minutos. 14 anos.
9/4 – terça-feira – 18h
A casa sinistra (The old dark house), de James Whale (EUA, 1932). Com Boris Karloff, Melvyn Douglas, Charles Laughton.
Comédia/Horror/Thriller. Sinopse: Buscando abrigo de uma tempestade, cinco viajantes vivem uma noite bizarra e aterrorizante quando se deparam com a propriedade da família Femm. 72 minutos. 14 anos.
10/4 – quarta-feira – 18h
Sangue de pantera (Cat people), de Jacques Tourneur (EUA, 1942). Com Simone Simon, Tom Conway, Kent Smith.
Fanstasia/Horror/Thriller. Sinopse: Misteriosa jovem sérvia acredita que descende de uma raça de mulheres-pantera, que, quando emocionalmente excitadas, se transformam em criaturas assassinas. Seu marido decide mandá-la para o psiquiatra para investigar o problema. 73 minutos. 14 anos.
11/4 – quinta-feira – 16h
O solar das almas perdidas (The uninvited), de Lewis Allen (EUA, 1944). Com Ray Milland, Ruth Hussey, Donald Crisp.
Fantasia/Horror/Mistério. Sinopse: Roderick e Pamela Fitzgerald são irmãos em férias que descobrem uma mansão abandonada na costa inglesa. Eles compram a casa, mas o encanto dos Fitzgerald diminui quando eles ouvem histórias fantasmagóricas sobre a mansão. 99 minutos. 14 anos.
12/4 – sexta-feira – 18h
Infâmia (The children’s hour), de William Wyler (EUA, 1961). Com Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner.
Drama/Romance. Sinopse: As amigas Martha e Karen administram juntas um internato. No lugar, ao ser repreendida por uma mentira, uma estudante problemática tenta virar o jogo ao dizer para a avó que as duas têm um romance secreto. Quando o boato se espalha, a vida das educadoras se transforma para sempre. 108 minutos. 14 anos.
13/4 - sábado – 17h
Meu passado me condena (Victim), de Basil Dearden (UK, 1961). Com Dirk Bogarde, Sylvia Syms, Dennis Price.
Drama. Sinopse: Após o suicídio de seu amante, o respeitado advogado Melville Farr arrisca a carreira e o casamento para confrontar uma rede de chantagem contra homossexuais. O filme aborda temas gays na época em que o homossexualismo era crime na Inglaterra. 90 minutos. 14 anos.
14/4 - domingo – 17h
O médico & irmã monstro (Dr Jekyll & Sister Hyde), de Roy Ward Baker (UK, 1971). Com Ralph Bates, Martine Beswick, Gerald Sim.
Horror/Ficção Científica. Sinopse: Na busca pelo elixir da vida eterna, o Dr. Henry Jekyll começa a usar hormônios femininos retirados de cadáveres frescos fornecidos por Burke e Hare. Estes têm o efeito de alterar não só o seu comportamento, mas também de mudar seu gênero, transformando-o em uma linda, porém diabólica, mulher. 97 minutos. 14 anos.
Alusões Homoeróticas do Cinema Clássico
Cinemateca do MAM
De 8 a 14 de abril
Ingressos gratuitos
Cinemateca do MAM
Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85 - Praia do Flamengo, Rio de Janeiro - RJ, 20021-140
Telefone: (21) 3883-5630