SENHORITAS EM UNIFORME - Quando o amor vence o autoritarismo

Ainda que esta película tenha mais de 85 anos, a cineasta Leontine Sagan conseguiu incutir nela um olhar cândido e muito atual, que sobreviveu ao passar das décadas, acerca de temas como o primeiro amor, experiências da juventude e sororidade, acima de tudo. Em uma época marcada pela autoridade, pelas mazelas e pela tristeza que a guerra ainda traria – e que já trouxera poucas décadas antes - “Senhoritas em uniforme” (“Mädchen in uniform”, 1931) é um marco alemão na questão da representatividade LGBT, não só por ter um olhar inteiramente feminino e crível, mas por mostrar como essa temática pode ser abordada com ternura e delicadeza. Manuela (Hertha Thiele) é uma menina órfã que vê em Fräulein Von Bernburg (Dorothea Wieck) um amor desabrochar. Ela, por sua vez, tenta manter a postura de professora amiga das alunas, uma figura com quem possam contar diretamente, mesmo que sinta por esta aluna em especial um carinho a mais. Baseado em uma peça de Christa Winsloe, que depois deu origem ao livro “The child Manuela”, em 1934, o longa não pretendia ser expositivo ou audacioso, até pela época em que foi produzido, mas mostra que, onde há amor, há esperança. E mostra, também, que a união por meio de um sentimento tão poderoso pode fazer frente a uma ditadura, ainda que o autoritarismo seja imposto apenas dentro das paredes da escola. O filme tem uma narrativa leve, direta, e cenas muito marcantes. Contudo, a cena final é de um simbolismo e um lirismo à parte, quando a mulher mais rígida da escola se retira silenciosamente, depois que as alunas salvam Manuela de um trágico fim. Se o autoritarismo impõe a intolerância, o amor sob todas as formas é o único sentimento com força suficiente para afastá-lo.