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Melhor Filme: Tiros em Columbine (Bowling for Columbine), de Michael Moore (Canadá/EUA/Alemanha)

Por Carlos Augusto Brandão

Com Tiros em Columbine (Bowling for Columbine, 2002), Michael Moore volta a atacar.  No filme o diretor destila toda a sua crítica, presente e ácida desde o seu filme de estréia Roger and Me, que o tornou conhecido internacionalmente como um dos maiores opositores do ultra capitalismo dominante e da política bélica exercida pelos Estados Unidos.

Autor do igualmente corrosivo "The Big One", Moore é um terror para presidentes das grandes corporações e para o governo americano. Seu livro "Estúpidos Homens Brancos" (Stupid White Men) bateu recordes por semanas seguidas na lista dos best-sellers americanos, com mais de 500 mil cópias vendidas.

Em Tiros em Columbine, Moore volta sua metralhadora contra a indústria de armamentos através do documentário sobre a tragédia da Escola Columbine, em Littleton, no Estado de Colorado, onde em 1999 dois alunos mataram 12 colegas e um professor (fora dezenas de feridos).

Desde o início do seu filme, o controverso diretor procura mostrar que o episódio trágico tem relação íntima e direta com a violência vinda do Estado: "ao lado da escola, fica a maior fábrica de mísseis do país, que um dia antes do massacre, bateu recorde de produtos jogados em Kosovo", lembra.

É inesquecível a cena em que Moore, entra num banco para abrir uma conta. "Que tipo de conta o senhor quer?", pergunta a atendente.  "Aquela que dá uma arma de brinde às contas novas", diz ele.  Pouco depois, Moore sai do banco, sorridente e vitorioso, com um rifle novinho na mão. 

A partir dessa seqüência, o diretor vai mostrando ao longo do seu filme vários momentos do culto às armas nos Estados Unidos: apresenta pronunciamentos de Bush na tevê que evidenciam como o governo americano concede verbas gigantescas para a compra de armamentos; entrevista várias pessoas, entre as quais alguns integrantes da ultra conservadora National Rifle Association (NRA); e vai por aí, desfilando outros exemplos, até chegar ao massacre da Escola Columbine, cerne do documentário. 

"Nos Estados Unidos os governantes só conseguem resolver seus conflitos pela violência. É o país que possui o maior número de armas de fogo por habitante do mundo", afirma Moore, que numa outra seqüência mostra uma declaração racista de Charlton Heston, Presidente da NRA, afirmando que "é um direito inalienável dos americanos armarem-se para defender os valores que herdaram dos pioneiros europeus que criaram a grandeza da América". 

Com um humor ferino e às vezes beirando um soco no estômago, Moore segue jogando na tela imagens de arquivo, como depoimentos dos sobreviventes da tragédia de Columbine; e uma cena impactante quando dois deles, entre os feridos no tiroteio, vão junto com Moore devolver as balas à rede de lojas K-Mart, onde os assassinos tinham comprado a munição para realizar o massacre. A K-Mart, como é do conhecimento geral, é uma das mais respeitadas cadeias de lojas de departamento dos Estados Unidos.

Moore se define como um social democrata lutando por uma sociedade mais justa e afirma que quando se coloca contra a influência americana no mundo o faz para que os que o assistirem nas telas estrangeiras não deixem acontecer em seus próprios países o que aconteceu com os Estados Unidos, onde hoje estão prevalecendo as idéias da direita e os sistemas solidários praticamente desapareceram, tomando, por exemplo, o sistema de previdência americano, em processo de falência.

E Moore não só diz como faz, como comprovam os três longas que realizou até agora: em Roger and Me, o diretor  persegue o presidente da General Motors  porque ele fechara uma fábrica em sua cidade natal ,  deixando milhares de desempregados ; "The Big One" mostra os efeitos da globalização na exploração de mão-de-obra no terceiro mundo, tomando por exemplo a Nike e o trabalho infantil em suas fábricas na Indonésia . Seu último filme, por sua vez, é inegavelmente um míssil visando a cultura de armamentos e contrário à patologia de uma sociedade hoje baseada no medo. 

A força jornalística e a veemência dos argumentos dos tiros impressionam, sem dúvida, as platéias "Minha arte é militante mesmo; acredito que o cinema é um poderoso instrumento para ajudar a mudar as coisas", diz Moore, que ao contrário de muitos documentaristas, não se posiciona apenas como testemunha do que está relatando: ele está presente em inúmeras cenas do filme, com seu inseparável boné de beisebol, sua marca registrada.

Por vezes acusado de panfletário, por vezes de quixotesco, Moore não se deixa intimidar e ameaça continuar com a sua guerra pessoal contra as grandes corporações.

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