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Tropa de Elite, de José Padilha (Brasil)

Por Susana Schild

Tropa de Elite (2007), de José Padilha, um dos filmes brasileiros mais polêmicos dos últimos anos (ao lado de poucos, como "Cidade de Deus"), vem marcando posição por uma série de ironias, méritos e paradoxos. Diretor do documentário "Ônibus 174", contundente retrato da violência urbana carioca, Padilha não poupou munição neste primeiro longa de ficção ao atirar, com câmera inquieta e montagem frenética, em vários temas explosivos que transformaram a Cidade Maravilhosa em trágica praça de guerra. 

Em percurso acidentado, o filme sofreu acusações de "fascista" ao supostamente defender os métodos do Capitão Nascimento do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), narrador da história e policial "incorruptível-embora-violento" (Wagner Moura, em interpretação devastadora). Ressalva: em entrevistas, o diretor enfatizou que considera "a tortura pior do que a corrupção". 

É de se pensar que o personagem pode ter conseguido o questionável status de herói mais pelo desamparo e desespero de seus eventuais admiradores do que por mérito. Cansado de guerra e às vésperas de ser pai, Nascimento quer mudar de vida. E precisa de um substituto que poderá ser o bem-intencionado Matias (André Ramiro) ou o impulsivo Neto (Caio Junqueira). Para ganhar o posto, ambos serão submetidos a treinamento brutal.

A trama se desenvolve em cidade claramente partida: de um lado, as favelas, onde crônicos confrontos armados envolvem traficantes, policiais e sobretudo vítimas inocentes de uma histórica omissão generalizada nas áreas de saúde, educação e segurança - para começar, sem falar em esquemas de corrupção, conchavos e impunidade.  A vida dos "outros" está representada por universitários de boa consciência, integrantes de ONGs em favela e que não dispensam um baseado para relaxar. Matias funcionará como elo entre cidade e asfalto e também entre o consumo e o tráfico, disparando mais um tema polêmico: a conivência do usuário. 

Recordista de vendas piratas (avaliadas em 10 milhões de cópias), maior bilheteria nacional de 2007 (perto de 2.500.000 espectadores), Tropa de Elite vem provando dispor também de poder de fogo para polemizar no exterior: Arrasado pela bíblia do entertainment (Variety), levou o Urso de Ouro no último Festival de Berlim. Com narrativa impecável e sem fechar questão sobre nenhum tema, talvez seu maior mérito seja a capacidade de mobilizar e indignar - a favor ou contra - o espectador a respeito de uma guerra sem vencedores. O final impactante não deixa dúvidas: estamos todos na linha de tiro. Qualquer vislumbre de saída passa necessariamente por um amplo debate.

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