Um Homem Sério (A Serious Man), de Joel e Ethan Coen (EUA)
Por Daniel Schenker
Há o risco de o espectador sair de Um Homem Sériosem detectar ao certo sobre o que Joel e Ethan Coen resolveram tratar dessa vez. O próprio filme sublinha a possibilidade da falta de explicação desde a abertura, aparentemente dissociada do que vem a seguir. Na primeira cena, um casal recebe a visita de um ancião que, segundo a mulher, seria um dibuk, termo evocado anteriormente na célebre peça de Sch. Na-Ski (O Dibuk) referente à alma de um morto que periga encarnar no corpo de uma pessoa viva.
No decorrer da projeção, o professor de física Larry Gopnik (interpretado por Michael Stuhlbarg) pergunta a um dos rabinos que procura na busca por explicações para a maré de azar que toma conta de sua vida: "de que forma Deus fala conosco?". E o rabino responde: "não podemos saber tudo". O próprio Gopnik define o princípio da incerteza como a prova de que "não podemos saber com certeza o que se passa". Um Homem Sério traz à tona a impossibilidade de ter acesso a muitas explicações ou até mesmo às respostas de que mais se precisa. Como aconselha o provérbio, estampado na tela logo no início, "receba com simplicidade tudo o que acontece em sua vida".
Por outro lado, esse saboroso filme dos Coen não é exatamente nebuloso. O dibuk surge para Gopnik através do espectro do recém-falecido Sy Ableman (Fred Melamed), amante de sua mulher, Judith (Sari Lennick). Pode-se talvez relacionar a presença perigosa do dibuk à situação de Gopnik, desmoralizado e desprezado pela família, acuado no emprego e responsabilizado por uma infinidade de coisas - do ajuste da antena de televisão ao pagamento do enterro do amante da mulher. Gopnik é um homem sério. Tentou agir nos conformes: casou, teve filhos, assumiu a função de provedor com a concretude de um profissional das ciências exatas, conquistou um cargo que pode se tornar ainda mais estável. Mas tudo parece ter dado errado para ele. Sentindo-se culpado, mesmo sem saber exatamente do que, aceita com passividade as privações impostas no cotidiano. O desfecho não aponta bons ventos em sua direção.
A Serious Man - EUA, 2009 - Direção, Roteiro e Produção: Joel Coen e Ethan Coen - Fotografia: Roger Deakins - Montagem: Roderick Jaynes - Música: Carter Burwell - Elenco: Michael Stuhlbarg, Sari Lennick, Richard Kind, Fred Melamed, Aaron Wolff - Duração: 105 minutos