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Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen (EUA)

Por Luiz Gallego

Barcelona propicia a Woody Allen brincar com um tipo de enredo banal em velhos filmes americanos (A Fonte dos Desejos, Candelabro Italiano) onde moçoilas casadoiras iam passar férias na Europa vivendo experiências fora de padrões puritanos. Permanece o choque cultural de conservadorismo e costumes mais libertários do velho mundo. Pelo menos no que toca à Vicky do título, pois a amiga Cristina é como Oscar Wilde "resistindo a tudo, menos às tentações". A "tentação" é o pintor descaradamente sedutor vivido por Javier Barden em tom exato de sutileza e cara-de-pau. Sua ex-mulher é Penélope Cruz, toda destempero: quando roda a baiana em espanhol escuta o bordão dito por ele em hilário sotaque hispânico "Speak in English, Maria Elena!". 

Vicky Cristina Barcelona lembra o clima doceamargo de "Jules e Jim", trocando a dupla masculina em torno da mesma mulher por duas moças com o mesmo homem. Vemos um trio passeando de bicicleta em travelling-citação com voz em off de narrador preenchendo elipses. Combinações entre pares e trios formam uma "quadrilha" amorosa/sexual que remete a cirandas afetivas de Truffaut e a uma fábula (a)moral,  parafraseando Rohmer, só que mais gaiata e menos blasé, fazendo rir como não se ria há tempos em comédias de Allen. Mas com sabor agridoce na discussão entre desejo e vontade - entendida como escolha racional. Especialmente para a personagem ‘Vicky defendida por Rebecca Hall como a "moça certinha" confrontada com a sedução da transgressão à qual se crê imune em clima ibérico-passional com pitadas de Almodóvar. O filme não seria tão bem-sucedido sem o afinado elenco em um verão que parece não ter fim - mas que se encerra em um belo plano das duas amigas, remetendo à cena de abertura: um círculo

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