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Volver, de Pedro Almodóvar (Espanha)

Por Myrna Brandão

Bem ao estilo de Almodóvar, o excelente melodramaVolver acompanha a vida de muitas mulheres. Uma delas é Irene (Carmen Maura), que é tida como morta num incêndio e sempre volta para dialogar" com sua família. Ela é mãe de Sole e Raimunda (Penélope Cruz), que por sua vez se tornou mãe aos 14 anos. Raimunda vive com o marido recente, um operário desempregado, e com sua filha, a adolescente Paula.

Volver, como o nome sugere, é um filme de muitos retornos que incluem até a retomada da parceria de Almodóvar com Maura, sua atriz fetiche e de quem ele tinha se afastado em 1989, depois do sucesso obtido com Mulheres à Beira de um Ataque deNervos. O cineasta espanhol volta também a La Mancha, escolhida como principal locação de Volver. Além de ser a região onde nasceu, o local tem muitas situações que fazem parte do imaginário de sua infância, como uma forma especial de cultuar os mortos. As historias de mortos voltando à vida são freqüentes na cidade.

A questão da maternidade, também abordada emVolver, tem uma inspirarão forte na mãe de Almodóvar. Como explicou o diretor em muitas entrevistas, a origem de grande parte do filme está nela, inclusive porque sua educação foi comandada principalmente por mulheres: ele quase não via os homens da família, que estavam sempre no campo. Muitas frases que sua mãe dizia são repetidas pelas personagens na história.

O abuso sexual - mote do diretor em Má Educação - também aparece no filme, através do marido de Raimunda que assedia sexualmente sua filha adotiva, bem como o tema da morte, sempre importante em sua obra. Para Almodóvar, a morte é um mistério que ele não consegue compreender. "Sempre tive medo da morte e a incluí em Volverpara falar da vida e enterrar alguma coisa, minha infância talvez", confessa. 

Como é comum na obra de Almodóvar, Volvertambém tem muitas homenagens a outros diretores como a prestada a Luchino Visconti, com cenas de Belíssima, estrelado por Anna Magnani que, como define o diretor, é a grande mãe do cinema. Um dos favoritos no último Festival de Cannes, o filme não levou a Palma, e na noite da premiação, o diretor mal conseguia disfarçar sua frustração, embora um neurônio sequer para pensar em prêmios".

Premiações a parte, Volver é, acima de tudo, um filme com a assinatura inconfundível do diretor, com muitas reviravoltas, profusão de cores, homenagens, auto referências, bem como com os recorrentes lances estéticos e trágicos.

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