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Wall-E, de Andrew Stanton (EUA)

Por Ricardo Largman

O primeiro nome na lista de créditos de agradecimentos de Wall-E não é por acaso o de Steve Jobs. Criador da Apple e responsável pelo sucesso da Pixar Animation Studios, produtora do primeiro filme de animação totalmente digital, Toy Story, Jobs aqui é referenciado-reverenciado. Os mouses que correm sobre o lixo dentro da nave Axiom - são os da Apple. As "entranhas" e o som de "ligar" do personagem-título - são os das máquinas de design e performance geniais que, há anos, caracterizam a obra de Steve Jobs. E ele "está" lá, em diversos outros cantos da tela: na concepção visual e nos movimentos suaves, perfeitos, da robô EVA, é quase possível sentir o sistema Macintosh em ação.

Referencial, de fato, Wall-E fala da fraqueza, da inércia e letargia humanas através do computador Auto, que controla ao longo dos séculos a Axiom - e que tem inequívoco parentesco com Hal 9000, de "2001, uma Odisseia no Espaço". Wall-E, o filme, fala de alta tecnologia e de lixo tecnológico, e de como a combinação dos dois acabou por ditar a sorte, ou infortúnio, da Terra nos próximos 800 anos. Wall-E, o solitário protagonista, fala apenas com bipes, rangidos, alguns ruídos - que parecem palavras. Sua expressividade é quase humana. Ou, talvez, mais do que humana. Não se trata apenas de uma máquina feita de chipes, parafusos, restos de outras máquinas: há um coração pulsando, ávido por novas emoções, amor e companhia. Wall-E, filme e personagem, têm alma. São criações singulares, complexas e de alta sensibilidade da mesma Pixar que produziu "Procurando Nemo", "Carros" e "Ratatouille". A mesma Pixar que, um dia, já foi de Steve Jobs, mas que continua a buscar inspiração no seu grande mestre.

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